Vivemos numa sociedade com a maior esperança média de vida de sempre, e com cada vez mais tratamentos para variadas doenças, mas ao mesmo tempo com famílias cada vez mais pequenas, e com redes de solidariedade enfraquecidas. Paralelamente, a sociedade em geral, tem dificuldade em abordar e envolver-se compassivamente nos momentos desafiadores da vida humana, como o são tempos de doença, morte, envelhecimento, solidão, sofrimento e luto. Todos estas dimensões levam à agudização do isolamento das pessoas com doenças graves e/ou crónicas, a um progressivo sentimento de (auto)exclusão social e à sobrecarga do cuidador principal. Também as pessoas que vivem processos de luto pela perda de pessoas queridas ou por outras perdas, encontram uma comunidade com pouca capacidade de escuta e de acolhimento ao seu luto.

Poder viver o melhor possível o tempo de doença, ter uma boa morte, e viver o processo de luto de forma bem acompanhada, requer não apenas acesso a bons cuidados de saúde e o apoio essencial das instituições sociais, mas também muitos outros aspetos ao nível social, relacional, psicológico, emocional, e espiritual. A falta de redes de apoio e o esgotamento do cuidador costumam ser a causa da hospitalização, embora a maioria das pessoas queira ser cuidada em casa. Acima de tudo, as pessoas querem estar rodeadas de familiares, amigos, querem ser queridas. Querem estar nos seus ambientes familiares e realizar as suas atividades preferidas tanto quanto puderem.

Portanto, é cada vez mais necessário, que para além dos sistemas de saúde e sociais disponíveis, se fomente um movimento de atenção integral, que implique a comunidade como parte do sistema de cuidado – as Comunidades Compassivas.

Desta maneira, irá permitir-se que as pessoas com doenças avançadas possam viver melhor, gerando redes comunitárias, que colaborando, fazem com que o acompanhar, o cuidar e a compaixão sejam a base da sociedade, contrariamente à solidão. É essencial voltar a uma sociedade com redes de solidariedade mais fortes, em que assumimos a interdependência, e em que todos possam voltar a tomar consciência que cuidar é um privilégio, é motivo de orgulho, tornando todos melhores seres humanos.